terça-feira, 25 de setembro de 2007

QUEM MATOU TAÍS?


Lá para os idos de 1990, Renan Calheiros era um fiel escudeiro de FernandoCollor. Lembro que ele chamava atenção pelo cabelo sempre despenteado. Erauma figura estranha, vivendo na sombra do poder. Foi eleito senador pelo estado de Alagoas em 1994 e reeleito em 2002. Quando do impeachment, faziaparte da "tropa de choque" que defendia Collor.Collor se foi, mas Renan ficou. E aprendeu como poucos a navegar no mundo dapolítica. Foi ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso,ocasião em que presidiu a XI Conferência dos Ministros da Justiça dos PaísesIbero-Americanos, e pouco depois a reunião dos ministros do Interior do Mercosul, Bolívia e Chile. Foi também presidente do Conselho Nacional deTrânsito (Contran); do Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente(Conanda); do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH) e do Conselho Nacional de Segurança Pública (Conasp). Em 2002, foi um dosmentores do Estatuto do Desarmamento. Chegou a Presidente do Senado Federalem 2005 e foi reeleito em 2007. O cabelo despenteado desapareceu, a roupa melhorou, o patrimônio aumentou. E ele acabou traçando aquela tetéia que erarepórter da Rede Globo. O resto já sabemos. O escudeiro transforma-se nafigura central da política brasileira durante o primeiro semestre de 2007. Surgem denúncias em cima de denúncias. Mas o cara não cai. Resistebravamente, de tal forma que começamos a desconfiar que ele tem mais do queinocência.Ele sabe das coisas. Ou melhor, ele sabe de coisas. Sabe tanto que pode ameaçar:- Se cair, levo um monte junto.Esse é o risco que corre quem tem escudeiro. O escudeiro conhece as maniasdo príncipe, as fraquezas do príncipe, as sacanagens do príncipe. E seuconhecimento pode destruir o príncipe. Para livrar-se dele o príncipe tem que mandar matar. Ou aceitar a chantagem.O que assistimos nos últimos meses talvez seja um dos maiores escândalos dechantagem pública "destepaíz". Nunca antes um senador teve em suas mãostanto poder, tanto conhecimento para causar medo. Veja só: provoca o afastamento de Fernando Collor, que se licencia de seumandato reconquistado depois de cumprir a pena pelo impeachment. Collor nãopode votar contra seu ex-escudeiro. Provoca a saída do país do Presidente Lula, que faz teatro do outro lado do mundo. Destrói a carreira de AloísioMercadante, que mais uma vez tenta explicar o inexplicável, justificar oinjustificável. Expõe a cara-de-pau de um Romero Jucá, de um Epitáfio Cafeteira. Deixa explícito que a mídia pode muito, mas não pode tudo. Manchadefinitivamente a imagem do Senado. É poder demais para um senador só, o quenos leva a perguntar: o que é que Renan sabe?Eu posso imaginar. Sabe de outros senadores e deputados que usam dos mesmos expedientes que ele usou para benefício próprio. Sabe tudinho do mensalão.Sabe das negociatas para compra de votos, para mudança de legenda, paraproteção de empresas devedoras frente ao fisco. Sabe das doações de bancos e grandes empresas. Sabe de concessões de rádio e televisão. Sabe quem comequem. Sabe dos propinodutos variados (aliás, quando é que uma CPI vaidedicar-se a esmiuçar os contratos da área de informática no governo?). Deve saber dos acordos envolvendo as Farcs. Chavez. Fidel Castro. Sabe de muitosoutros filhos fora do casamento. Talvez Renan saiba quem matou Celso Daniele o Toninho do PT. Deve saber sobre os bastidores das privatizações. Conhece alguns - ou muitos - podres envolvendo as grandes estatais. Sabe do Kia, doBoris e do Corinthians...Renan tem o poder supremo: informação. Ele manda em quem quiser. Ele ditaregras, exige apoio e faz tremer. Renan pode tudo. E sabe que pode. Daí aquela segurança, aquela arrogância, aquele sorrisinho, aquele"abisolutamente", aquela certeza, aqueles abraços e apertos de mãoinexplicáveis. Renan é o cara.Quer saber? Eu acho que Renan sabe até quem matou a Taís. E nós, que pensamos que sabemos das coisas e na verdade sabemos de nada?Vamos seguir a vida, bovinamente resignados e obedecendo ao supremomandamento do novo Brasil:- Cale a boca. E compre.Será que o Renan sabe até quando? Este artigo é de autoria de Luciano Pires

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